Apontamentos sobre ética e jornalismo
Comunicação

Apontamentos sobre ética e jornalismo


Considero a ética a questão mais difícil, mas também a mais importante em jornalismo. Mais difícil eu já digo o porquê. Mais importante porque um profissional desonesto pode abalar o maior bem que uma empresa jornalística pode ter, que é a sua credibilidade. Isso sem falar nas consequências para a sociedade. Por isso, encorajo e admiro colegas como o Rogério, que dedicam a carreira a estudar esta área.

A revista Cult deste mês trouxe um dossiê sobre ética que inclui um texto muito bom, claro, do professor Franklin Leopoldo, além de duas páginas tratando da cobertura do terremoto no Haiti, do ponto de vista ético, of course. O que acho particularmente curioso é como jornalismo e filosofia enfrentam dilemas muito parecidos e pouco conversam entre si.

Crise
O problema hoje, em filosofia, é como construir uma ética que seja ao mesmo tempo intersubjetiva, ou seja, válida no âmbito das relações (com as outras pessoas, com o meio ambiente); e universal, isto é, aplicável em todas as situações, respeitando, ainda, pluralismos morais, políticos e religiosos. Desde que Kant aposentou Deus, Darwin, Freud e Schopenhauer deram aviso prévio à razão autônoma e Nietzsche turvou o manancial dos valores, a firma entrou em crise.

O jornalismo vive semelhante drama. Temos uma série de códigos deontológicos, que compõem aquilo que Caio Túlio Costa chama de moral provisória, e lidamos no dia-a-dia com situações limites que desafiam a validade de uma conduta de caráter universal. Como resolver?

Alguns defendem conselhos para julgar o comportamento profissional, da mesma forma que médicos e advogados têm os seus. Mas num país que passou por duas décadas de ditadura militar e é assombrado pelos espectros de Lênin, todo o controle externo soa como censura. E o perigo é real.

Banquete
Acredito que de um diálogo com a filosofia, que pensa esses problemas há mais de dois mil anos, podem surgir soluções interessantes. Um dos caminhos, a propósito, passa pela instância comunicativa. Apel e Habermas têm trabalhos a respeito de uma ética comunicacional (sobre isso, leiam a tese do brother Josué). O 'porém' desta história é que isso pressupõe, para dar certo, que os agentes não sofram nenhum tipo de coação social ou política para estabelecer consensos. E sabemos que aquela definição infantil de comunicação como 'tornar comum e bla-bla-bla' não funciona. Na prática, comunicação é uma forma de poder (leiam Aula, de Barthes, só pra começo de conversa).

Não obstante, tanto a ética comunicativa quanto outras éticas contemporâneas oferecem um self service de teorias esperando para serem digeridas e metabolizadas.

Solvet et coagula, Hermes.

Reprodução: Escola de Atenas (1509–1510), de Rafael.



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