Uma câmera na mão, poucas idéias na cuca
Comunicação

Uma câmera na mão, poucas idéias na cuca


Há um certo exagero a respeito do alcance do chamado jornalismo cidadão, municiado pelo otimismo exacerbado de sites do gênero.

O ponto que considero mais importante é a possibilidade de maior participação do público na produção de notícias, por meio de ferramentas interativas, além das implicações políticas da limitação do modelo vertical de comunicação.

Mas será que o conteúdo gerado pelo usuário é tão relevante assim?

Cracolândia para inglês ver
Um exemplo é o novo site de jornalismo colaborativo Demotix, que se intitula "a rede cidadã" (em inglês), para divulgação de fotos e vídeos. Ele tem a proposta de funcionar como uma espécie de agência de notícias alternativa, o que é interessante. "Sua câmera é sua arma", diz na home.

Um destes materiais enviados de SP me chamou a atenção. Favelas verticais da Cracolândia de São Paulo (em inglês) traz fotos de cortiços verticais e pessoas deitadas na rua. O texto indica que ali habitam os viciados, em "um mar de favelas que cerca a maior cidade brasileira"... e por aí vai. As fotos foram enviadas por um casal de espanhóis, provavelmente turistas.

Qual é a qualidade jornalística disso? Creio que nenhuma.

The point is...
Jornalismo colaborativo, como o nome indica, se faz por intermédio de uma parceria entre o público e o profissional. Conferir sentido e contexto às informações; ligar, analisar e sintetizar os fatos; dar importância e objetividade à notícia, tudo isso exige o domínio de metodologias cada vez mais apuradas.

Um engenheiro do ramo petrolífero sabe muito mais do que qualquer repórter sobre aspectos técnicos da exploração da camada pré-sal. Mas é preciso um jornalista para explicar isso ao leitor de forma crítica, incluindo os bastidores políticos envolvidos na questão.

Diploma pra quê?
Minha hipótese é a de que a comunicação contemporânea demanda mais profissionalismo -- o que pode parecer paradoxal em se tratando da abertura da web para o público não-especializado. Defendo, portanto, não somente a formação do jornalista, como também a formação continuada.

Produzir informação de qualidade custa caro. É bom tomar cuidado com a "boquinha livre" na internet.

Memória
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