Receita de jornalista scholar
Comunicação

Receita de jornalista scholar



Jornalismo se aprende na prática. E a melhor escola é a redação. A faculdade fornece um conjunto limitado de técnicas - de apuração, organização de dados e redação - e, se tiver sorte (e interesse), aquilo que chamam de "bagagem cultural".

Mas nada prepara o foca para o choque de cair numa redação de jornal: cinco pautas pra apurar, chefe de redação achando tudo que você faz uma porcaria e o temido "pescoção" de sexta chegando, sem falar em vigílias em porta de presídios e plantões de domingo... Aí sim, terá provado dessa cachaça. Faz mal, mas vicia.

Mas esse jornalismo feito "na marra" encontra logo seus limites. Vivemos um momento de transição, de incertezas e apostas. A convergência de mídias, o acesso a fontes diversas de informações, os leitores mais participativos e exigentes, novas ferramentas de apuração e plataformas de publicação, tudo isso exige um profissional com um perfil mais scholar.

Eugênio Bucci, no quarto de último artigo da série "Responsabilidade da Imprensa", Jornalismo precisa de formação continuada, publicado na última terça no Observatório da Imprensa, faz uma defesa do jornalismo de precisão, que se faz com estudo.

Sem isso, argumenta Bucci, o jornalismo estará deixando de cumprir sua responsabilidade social de fiscalizar os poderes públicos.

O texto começa assim:

Persiste em parte das redações, ainda, a tristonha presunção de que o jornalismo se faz e se aprende "na prática": se o sujeito leu uns livros bons, tem vocabulário acima do comum, é curioso e esperto, vai brilhar. Assim é que esse ofício se firmou e se reproduz, com base na ilusão de auto-suficiência. Talvez ela bastasse até meados dos anos 1970, mas hoje é apenas vã. O jornalismo, como as demais atividades, impõe a seus praticantes que estudem.

Pego carona no brilhante artigo de Bucci para questionar qual será o papel da universidade na formação desse profissional. Será que as universidades fornecem condições para renovação da prática do jornalismo, que atenda o mercado e as perspectivas da profissão e, além disso, suscite, de alguma forma, a formação continuada?

Forno aquecido
Sejamos sinceros, universidade, com suas exceções, apenas repete um modelo defasado de ensino no Brasil, baseado em grades estanques, sistema de notas e listas de chamadas, que em nada ajuda nessa tarefa. Pelo menos conheço alguns colegas pedagogos que concordam comigo nesse ponto.

Como resultado, o aluno fica de saco cheio e, quando pega o diploma, não quer mais ouvir falar de faculdade. E, muito menos, de estudo.

Alguma coisa está errada nisso tudo.

Pois é justamente nesse ambiente universitário que deve vingar o jornalista scholar. Para isso, aí vão umas sugestões muito modestas de uma receita rápida de preparo:

Cobertura
Ser autodidata é legal, a maioria dos blogueiros o são, não é mesmo? O que a academia pode fornecer são métodos que facilitem o aprendizado e, mais do que isso, estimulem o aprendizado. E também - importantíssimo!- a experimentação, não meramente a reprodução mecânica do mercado.

O que acontece quando a redação precisa mais do que "umas pingas na cabeça e um lide na mão"? Quando faz diferença entender que "computador não é máquina de escrever", "celular não é telefone", que precisamos relacionar fatos, buscar notícias além do press release, saber o que é RSS, blogs, bookmarking, YouTube, base de dados, e, mais importante, como isso tudo serve para fazer jornalismo. What?

Sirva quente!

Reprodução de A Leiteira (1660) de Jan Vermeer.



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