PONTO DE VISTA DO BAIXO CLERO - EU VI
Comunicação

PONTO DE VISTA DO BAIXO CLERO - EU VI


Quando o então vereador Orlando Bonilha gritou o “sim” que selou a cassação de Antonio Belinati (PP), olhei para o relógio do plenário da Câmara, que marcava exatamente 8h27 daquela manhã de 22 de junho de 2000. Tinha chegado ao Legislativo por volta das 17 horas do dia anterior, passei a madrugada acompanhando a sessão e sabia que estava testemunhando a História, com “H” maiúsculo. Mas em momento algum me iludi que se tratava um ponto final na história da corrupção, como diziam, empolgados, alguns líderes do movimento “Pés Vermelhos, Mãos Limpas”. Afinal de contas, oito anos antes, ainda estudante de jornalismo e presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), pintei a cara pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Hoje, 20 anos depois de Collor e 12 depois de Belinati, a vida de repórter me leva novamente a acompanhar de perto um processo de cassação contra prefeito. Em todo esse tempo, foram vários escândalos envolvendo todas as correntes políticas, confirmando que aquilo que Raymundo Faoro chama de “Viagem Redondo”, num clássico da sociologia brasileira escrito há pouco mais de meio século, o que faz com que, infelizmente, um processo de cassação a mais ou a menos não me surpreenda mais.

Mesmo sem surpresas, comparações são inevitáveis. Politicamente o prefeito Barbosa Neto (PDT) nasceu de uma costela do mesmo belinatismo que ontem foi cassado e que hoje é “cassador”. Seu nome aparece na famosa “lista do Zavierucha”, os documentos contábeis apreendidos pelo MP com aquele que era considerado o caixa do belinatismo. Mas não há a mínima possibilidade de comparação entre o isolado Barbosa Neto de 2012 e o cassado Belinati de 2000.

Belinati era um homem muito mais poderoso do que jamais Barbosa tenha sido em qualquer momento. Era marido da vice-governadora Emília Belinati, aliado do então governador Jaime Lerner (1995-2002), tinha um filho deputado estadual e Alex Canziani (PTB), que fora vice-prefeito na chapa, em 1996, foi eleito deputado federal. Além disso, Belinati tinha no seu time o polêmico – às vezes truculento – e falecido ex-deputado José Janene, que anos mais tarde estaria entre os acusados de envolvimento no caso do “mensalão” – que chega ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana.

De mais a mais, os escândalos são muito diferentes em cifras. O caso Ama/Comurb foi milionário. Até hoje o ex-prefeito tem dificuldades para dizer onde foram parar os R$ 186 milhões da venda de parte das ações da Sercomtel para a Copel. As cifras dos escândalos da gestão Barbosa são “troco” perto do Ama/Comurb. Os R$ 2,6 milhões de prejuízo assinalados pela CEI da Educação, por exemplo, representam muito para o contribuinte, mas não se comparam ao rombo deixado pelo gestão Belinati.

Por fim, Barbosa enfrenta uma crise em tempos de internet, o que torna muito mais difícil o controle à informação que estudei na minha dissertação de mestrado e que tanto beneficiou Belinati no biênio 1999-2000, tornando a sua cassação e seu desgaste muito mais difícil e lento que foi o de Barbosa.

Fábio Silveira é repórter e colunista de política do JL e professor universitário. Em 2002 tornou-se mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) ao defender a dissertação “Imprensa e política – o caso Belinati”, publicada como livro em 2004.



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