O sabor das palavras
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O sabor das palavras


Há alguns anos, comprei uma panela de barro. Também tenho uma de ferro, muito boa. Mas minha relação com a cozinha não anda lá essas coisas. Passo a maior parte do tempo no escritório, lendo e escrevendo. Cozinhar e comer, ler e escrever, são atividades muito parecidas. E que se tornam mais prazeirosas no inverno.

Poucos filósofos tinham estilo como Schopenhauer. Tanto que o alemão agradava literatos do porte de Machado de Assis, J. L. Borges e Thomas Mann. Ele registrou algumas das mais interessantes reflexões a respeito dos livros no seu famoso Parerga und Paralipomena. Lê-se:
"E assim como o estômago se estraga pelo excesso de alimentação e, desta maneira prejudica o corpo todo, do mesmo modo pode-se também, por excesso de alimentação do espírito [com a leitura], abarrotá-lo e sufocá-lo."
E ainda:
"(...) e só com ela [a ruminação] é que nos apropriamos do que lemos, da mesma forma que a comida não nos nutre pelo comer mas pela digestão. Se lemos continuamente sem pensar depois no que foi lido, a coisa não se enraíza e a maioria se perde."
O que Schopenhauer quer dizer é que não adianta somente ler, tem que entender. Processar a coisa, digerir e, assim, nutrir o "espírito". A única finalidade de ler deveria ser aprender a pensar por conta própria.

Schop ainda vai dizer que somente bons livros fazem isso pela gente. Devemos, portanto, fugir dos "besta sellers" como fugimos do ovo colorido e do torresminho amanhecido do boteco da esquina. Mas isso, é claro, varia conforme o paladar...

Receita de bolo
Fazer um bolo é uma atividade intelectual. Jogar futebol, idem. Achou estranho? Pois é, sabe aquele papo de teoria e prática? Pura bobagem. Em nosso cotidiano as coisas andam juntas, só aprendemos a pensar dualmente na escola.

Em ciência, observa-se o mundo, elaboram-se hipóteses, constroem-se teorias e aplica-se para ver se funcionam. Palmirinha e Einstein tem muito em comum. A cozinha é uma espécie de laboratório.

E o futebol? Confesso minha completa ignorância neste assunto. Mas sei que é um esporte em que pensamento e pernas movem-se numa sincronia que, infelizmente, me faltam completamente.

Solve et coagula
A maioria das pessoas costuma ver os livros como algo excessivamente intelectual, a menos que seja um de receitas ou o I Ching, que são feitos para serem usados.

Curto muito uma metáfora -- que, salvo engano, li em Mil Platôs -- que compara teorias com caixas de ferramentas. É algo que sempre insisti em sala de aula. Ler, entender e aplicar. Se não servir para apertar os parafusos certos, trocar de ferramenta.

As ideias não foram feitas para ficarem dentro do cérebro. Precisam de ar fresco para germinarem (se bem que em algumas cabeças há adubo de sobra).

Ler/escrever é uma operação alquímica, da mesmo forma que comer/cozinhar. Tem que ocorrer alguma transformação, caso contrário é mentirinha. A reflexão, a conversa com amigos, a aula, os blogs, o cotidiano, tudo isso são etapas da digestão.

Vai deixar de provar?

Foto: Fickr.



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