Nilson Lage e Ramón Salaverría falam sobre alterações no Jornalismo
Comunicação

Nilson Lage e Ramón Salaverría falam sobre alterações no Jornalismo


O I Colóquio Ibero-americano de Professores de Jornalismo ocorreu na noite de domingo, como extensão do Encontro Nacional. Os professores Nilson Lage, da Universidade Federal da Santa Catarina, e Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra, apresentaram um panorama das mudanças ocorridas com o jornalismo nos últimos anos em função dos meios digitais.


Para Salaverría, o ensino de jornalismo vem sofrendo as maiores alterações em 30 anos. Após o Tratado de Bolonha, em 1999, quando os países da Comunidade Européia decidiram promover uma unificação da formação superior, as universidades espanholas estão realizando alterações nos currículos. Processo que terá seu ápice na adoção do novo sistema universitário, a partir de 2010. Um sistema único bastante parecido com o brasileiro entrará em vigência, de acordo com o professor espanhol.

Após passar rapidamente pela história da institucionalização do ensino jornalístico na Espanha, Salaverría ponderou sobre sua área de atuação, o ciberjornalismo. Ressaltou que a maioria dos veículos e organizações jornalísticas que buscam profissionais nas faculdades espanholas procura por especialistas no meio digital. A crescente importância desta modalidade jornalística, foi confirmada por uma pesquisa que mapeou, em 2005, a situação dos meios na Espanha, que possuía 135 jornais impressos; mais de 7 mil revistas, mais de quatro mil emissoras de rádio, 900 emissoras de televisão e 1.274 publicações online.

Os professores de jornalismo da Espanha nos últimos anos formalizaram redes de pesquisa e alteraram os currículos dos cursos com vistas a ensinar as ferramentas do meio digital para além de questões instrumentais.

O professor encerrou sua fala apresentando os desafios deste momento, como o impacto das tecnologias digitais no jornalismo e a elaboração de metodologias de pesquisa, passando da empírica a modelos de pesquisa aplicada, a ferramentas e protótipos, bem como ao uso de ferramentas coletivas de ensino. Também considerou de caráter obrigatório a inclusão de conteúdos sobre tecnologias digitais e a elaboração de novas metodologias de ensino nos currículos acadêmicos, com a aprendizagem através da prática, com professores usuários da tecnologia para, assim, ensinarem seus alunos a utilizá-la.

O professor Nilson Lage, com a lucidez de poucos, realizou uma análise crítica do ensino de jornalismo no Brasil e do atual momento que requer uma educação para um "certo tipo de aluno, de jovem que quer fazer Comunicação". Para Lage, a recessão da década de 90 gerou preocupações com o desemprego em massa que levou a uma aceleração a qualquer custo da oferta de vagas nos cursos superiores e o retardamento do ingresso do jovem no mercado de trabalho.

Houve o incentivo e crescimento das faculdades particulares que estariam vinculados a três tipos motivação: 1) escolas locais com vistas a ganhos políticos, 2) organizações e estruturas religiosas buscando expandir sua área de influência; 3) negociantes de pequeno porte expandindo atividades e cobrindo nova área. Contexto possibilitado pela Constituição de 1988.

Lage criticou o niilismo do direcionamento teórico dos cursos de jornalismo, que reproduzem a mesma estrutura há 50 anos, ao trocar à crítica ao capitalismo pelo industrialismo. Ratificou a urgência de nomenclaturas, metodologia e definições para a área. "Definições vagas são inúteis", afirma. E falou da necessidade de diálogo com outras áreas do conhecimento, como a filosofia, a computação, os sistemas de informação.

Com uma crítica feroz ao brilhantismo da incompetência na formação de jornalistas pelas faculdades que misturam festa juvenil com produção da informação, afirmou "jornalismo é coisa séria". Encerro com uma frase de Lage que resume muito: "O problema da notícia fidedigna não é do jornal, é da sociedade". Mais do que a se pensar nesta época de jornalismo colaborativo.

Comentário:
Mais uma vez ouvir Salaverría e os professores espanhóis sobre a situação do ensino e aprendizagem do ciberjornalismo em suas faculdades, as mais antigas da Europa em Jornalismo, ratifica o trabalho feito no GJOL. O que Salaverría apontou como tendência e necessidade vem sendo feito desde 1999 na Facom-UFBA, em sala de aula, com os avanços e retrocessos normais de um processo acadêmico.

A rede de pesquisadores espanhóis de ciberjornalismo teve suas discussões em 2005, na SBPjor, onde também houve o incentivo e consolidação de várias redes de pesquisadores brasileiros em jornalismo. O professor Javier Diaz Noci estava como visitante na UFBA e junto com Elias Machado e Marcos Palacios articularam um convênio de pesquisa entre os dois países, cujo primeiro Colóquio ocorreu em dezembro passado, em Salvador. Também vale ressaltar que duas das primeiras teses sobre jornalismo digital na Espanha foram defendidas por brasileiros: Elias Machado e Cláudia Quadros.

Somente tive duas oportunidades de ouvir o professor Nilson Lage. Sua lucidez e pertinência de análise são precisas. Fala do ponto do jornalista para jornalistas. E o que somos senão jornalistas?

Foto: FNPJ.



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