Jornalistas entendem de usabilidade?
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Jornalistas entendem de usabilidade?


"Acho que o Nielsen está equivocado", disse Pollyana Ferrari ontem à noite, se referindo ao status do texto escrito nas narrativas em meios digitais. Para ela, a imagem vai ganhar cada vez mais espaço no jornalismo. O icônico se impondo ao verbal. A principal lição a tirar desse debate é que estamos em um terreno novo, em que a palavra de ordem é "experimente!", várias formas de narrativas. E quem vai fazer isso se a universidade de abster da tarefa?
Esta segunda (e última) parte da entrevista de Guillermo Franco com o especialista em usabilidade Chris Nodder - numa tradução muito livre - trata do conceito de usabilidade, que é facilitar a vida do leitor na web.


PERGUNTA: Em uma de suas colunas em “Alertbox”, Nielsen discutiu “Equívocos sobre Usabilidade”. Um destes equívocos é o de [afirmar] que a “usabilidade mata a creatividade.” Em muitas salas de imprensa do mundo, jornalistas dizem que suas diretrizes - particularmente aquelas que incentivam o uso da pirâmide invertida – matam a criatividade. Você tem algumas respostas para estes jornalistas? Você acha que os jornais devem usar a pirâmide invertida em suas homepages mas usar outros recursos nas páginas internas de seus websites?
RESPOSTA: Há vários formatos de notícias e muitas maneiras de contá-las. Eu ficaria desconcertado se meu romancista favorito escolhesse o estilo pirâmide invertida para escrever seus livros. Dar a conclusão no primeiro parágrafo não é o mais comum em tal literatura. Se eu fosse me estatelar na minha cadeira favorita em uma manhã de domingo com o jornal do fim de semana, esperaria encontrar alguns artigos mais longos, editoriais que analisasse e expusesse seu ponto de vista sobre temas atuais, relacionando novos temas e fatos. Entretanto, quando me sento em meu computador, esperando “escanear” rapidamente as principais matérias, eu aprecio a brevidade e a escrita concisa.
Mas vamos sair da preferência pessoal e ir para dados que coletamos em nossos estudos da usabilidade. Descobrimos que quando os usuários buscam um assunto específico - quando tentam encontrar uma informação ou resolver um problema - quase 80% deles fazem uma varredura na página atrás da informação relevante. Muitas diretrizes que sugerimos são apontadas para atender às necessidades destes usuários. Os usuários lerão somente o texto inteiro quando estiverem altamente motivados para obterem uma informação mais extensa.
Ler por prazer ou o entretenimento é obviamente uma atividade diferente. Entretanto, eu perguntaria aos jornalistas se acham que seus websites são atualmente usados com este propósito. Nossa pesquisa sugere algo diferente. Eu perguntaria também aos jornalistas se preferem transpor seu texto impresso para a Web porque eles acham que este é seu melhor trabalho ou porque não acham suficientemente criativo reescrevê-lo para sua audiência on-line, que traz um conjunto de expectativas completamente diferente para o artigo.

PERGUNTA: Sua teoria básica sobre escrita na Internet – [a de que] é melhor trabalhar com pirâmide invertida - vem do universo do jornalismo. Alguns dizem esse mundo - que frequentemente publica blocos de texto longos e inteiros que não podem ser “escaneados” e não usam links para dividir textos longos dentro de múltiplas páginas - não representa o melhor exemplo da usabilidade. O que o jornal e outros websites noticiosos precisam fazer para melhorarem sua usabilidade?

RESPOSTA: Nossa teoria básica sobre como escrever para o Internet vem da pesquisa em como os usuários lêem on-line. Nossas recomendações, desenvolvidas a partir desta pesquisa, são muitas vezes as mesmas que são feitas no universo do jornalismo. Temos percebido que sólidas habilidades jornalísticas muitas vezes traduzem bem o conteúdo legível on-line. Lógico, nem todos jornalistas são bons jornalistas, e mesmo os bons jornalistas não podem ter o controle sobre como seu trabalho é colocado on-line. Bons jornalistas podem escrever de modo muito diferente se considerarem que sua principal audiência é composta de surfistas da Web [Web surfers] antes de assinantes de jornais.
O que nós encontramos consistentemente é que qualquer técnica de escrita que forneça sinalizadores aos leitores é provável que ajude na compreensão. Estes sinalizadores podem ser sumários, títulos, texto grifado ou linkado, listas ou várias outras ferramentas que são ensinadas aos jornalistas. As mesmas regras se aplicam ao outros conteúdos da Web, como verbetes de enciclopédia ou descrições de produto. Tipicamente, o objetivo do usuário é o mesmo em todos os casos. Encontrar o bloco de texto relevante e depois a informação requerida dentro deste bloco. Os criadores de conteúdo devem evitar a vã noção de que os visitantes de websites se importam com a prosa eloquente. Visitantes são orientados a um objetivo; assim, eles se importam muito mais com a facilidade com que podem extrair a informação da página. Quando isto não puder inicialmente parecer muito “sexy” aos aspirantes a escritores, a diferença entre a escrita na Web pobre e boa é tão grande que pode frequentemente ser o fator que distingue um bom de um mau site.

PERGUNTA: A pesquisa mostra que os usuários lêem muitas vezes as páginas da Web de forma padronizada - duas varreduras transversais da página seguidas por uma para baixo no lado esquerdo. Você recomendaria que os designers de website do jornal, para usar palavras de Nielsen, “coloquem o conteúdo importante em uma única coluna principal, de modo que os usuários não precisem fazer a varredura da página e escolham elementos de design em um layout bidimensional”? A maioria dos websites de jornais espalham o conteúdo na página, num arranjo que não segue necessariamente a visão padrão.

RESPOSTA: Muitos websites de jornais colocam conteúdo na homepage em pedaços por toda página. Entretanto, tipicamente não fazem isto em páginas da matéria. Em suas homepages, as colunas múltiplas podem funcionar se os títulos para cada seção puderem ser “escaneados” separadamente no conteúdo. Isto tem o efeito de mudar a posição dos títulos dentro da lista, mas ainda exige mais esforço para “escanear” a lista do que a leitura baixando uma única coluna. Você pode observar que diversos websites de notícias se estão movendo para um modelo de uma única história com mais links – veja a cnn.com por exemplo. Lá a homepage conduz uma única história e fornece links para outras histórias que aparecem em suas próprias páginas.
Finalmente, a usabilidade deve ser adicionada em um design ao lado de outras considerações, tais como a renda publicitária e filosofia do negócio, entre outras coisas. Entretanto, os usuários tolerarão somente alguma degradação na usabilidade antes que olhem para outra parte de seu conteúdo. É um bom negócio testar tanto homepages quanto páginas internas para legibilidade a fim otimizar a compreensão e ajudá-la determinar o design final.



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