Incidente na Fale/UFMG: jornalismo tradicional X colaborativo
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Incidente na Fale/UFMG: jornalismo tradicional X colaborativo


O fato: por volta das 20h do dia 20 de agosto, um estudante entrou na Faculdade de Letras da UFMG e pediu para conversar a sós com uma professora do curso de extensão e aluna de mestrado, pela qual estaria apaixonado. Disparou dois tiros supostamente contra a professora e um contra a própria cabeça. Foi levado em estado gravíssimo para o hospital, onde faleceu.

A cobertura: poucas informações foram publicadas nos portais sediados em BH na noite do incidente. No portal UAI, uma nota muito simples publicada no fim da noite de quinta foi a matéria principal pelo menos até as 12h do dia seguinte (veja a reprodução em outro site, já que foi impossível localizá-la no site original).

O grande destaque do portal nas primeiras horas foi um relato publicado no projeto colaborativo Eu Não Tenho Nome, pela estudante de Letras de UFMG (e jornalismo na PUC-MG) Flávia Denise. A aluna (que mantém um interessante blog sobre livros) nos explicou o processo de apuração e redação da sua contribuição cidadã para o site, num relato que, acredito, é revelador das práticas colaborativos nos portais brasileiros.

Editei minimamente o e-mail gentilmente enviado por ela e, após, aponto algumas questões que me chamaram a atenção.
Eu estava na aula na FALE (Faculdade de Letras) quando desci para o intervalo com um amigo, que dá aula de alemão pelo Cenex, quando vi que tinha carros de polícia e ambulância na frente do prédio. Nós fomos descobrir o que tinha acontecido e perguntamos para o porteiro, que estava muito abalado e só soube dizer que eu ex-aluno tinha tentado suicídio.

Isso apenas nos deixou mais curiosos.. Ele brincou que como estudante de jornalismo eu deveria tentar descobrir tudo e fomos até o carro da polícia ver se alguém falava conosco. No caminho ele encontrou outra amiga, também professora pelo cenex, que estava em prantos. Perguntamos o que tinha acontecido e ele contou que estava dentro da sala quando tudo aconteceu. Conversamos com ela e quando ela foi embora, esse meu amigo disse que ele tem um escaninho na sala do cenex e perguntou se eu queria tentar entrar e ver o que tinha acontecido. Eu topei e nós fomos.

Chegando no quarto andar conversamos com os políciais e ficamos sabendo que nem mesmo os estagiário que tinham deixado até mesmo suas carteiras nos escaninhos não poderiam pegá-las. Eles haviam isolado parte do corredor e perto do cordão de isolamento havia um grupo de estagiário do cenex conversando sobre a Polyana, o João e tudo que tinha acontecido. Meu amigo já tinha me contado que João persegui a a moça, mas com eles eu consegui uma comprovação. Todos contavam casos de momentos em que a perseguição de João havia passado dos limites. Até esse momento não pensava em escrever nada sobre o ocorrido, sou estudante e não posso escrever para nenhum veículo, só pensei nisso depois, quando tudo acabou.

Um desses estagiários estava dando aula na sala ao lado e contou sobre o que ouviu. Ele acabou entrando na minha materinha. Quando eu percebi que nenhuma informação diferente iria sair dali, tirei algumas fotos com meu celular e fui para casa.

Quando cheguei em casa liguei para o meu namorado que é jornalista do eu não tenho nome. Ele está trabalhando a noite para cobrir as olimpíadas essas semanas então estava lá na redação. Contei o que aconteceu e falei que eu ia escrever algo sobre isso e postar no site. Ele concordou e disse que era uma boa ideia. Nesse momento o uai já tinha uma pequena nota sobre o ocorrido, mas estava superficial, cheia de informações erradas.. Escrevi e postei a matéria e o João colocou um link dela na página da matéria oficial. O que escrevi não foi editado, mas quando saiu o nome completo dos envolvidos eu pedi que o João Renato colocasse na minha matéria. Outra mudança foi que eu coloquei que o atirador era paraplégico logo no começo da matéria, ele sugeriu que entrasse depois. Eu mesma fiz essa mudança.


Algumas questões
: o que mais me chamou a atenção foi a pequena (ou nenhuma) interação entre o texto produzido pela colaboradora e pela redação do portal. Durante horas os dois textos permaneceram linkados, mas as informações apuradas pela estudante não foram acrescidas ao material da redação.


Uma contradição inclusive confundia os leitores: a mulher atacada era professora ou aluna? Era aluna e professora, descobri agora no relato da Flávia.

Falta de confirmação dos dados não pode ser uma desculpa, já que, repito, os textos estavam linkados (o link, sabemos, a maior prova de reputação da web).

O jornalismo tradicional e colaborativo devem ser pensados de forma complementar, não?

E outros portais locais, como cobriram o fato? O portal d'O Tempo manteve durante horas uma nota tão incompleta que, como afirmou o Bernardo, é digna de registro em aulas de JOL.

O Hoje em Dia, de site novo, nada noticiou.



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