B.O. é documento público
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B.O. é documento público


Lembrei aqui recentemente do filme Todos os Homens do Presidente, um clássico em todos os sentidos. Uma de minhas cenas preferidas é o começo, com aquele close na máquina de escrever em que cada tecla martelada imprime a lauda com a força de um trovão, selvagem, como se a verdade dos fatos não pudesse ser parida sem violência.

A dificuldade de conseguir informações públicas é uma rotina da profissão. Demanda muito "jogo de cintura", paciência, horas perdidas com telefonemas, fax, emails, "chá de cadeira" e pentelhação do repórter.

Censura
Um exemplo prático de como isso acontece. Essa semana, uma colega que trabalha numa cidade do litoral teve problemas com a Polícia Civil. O jornal achou por bem dar manchetes "negativas" sobre crimes ocorridos no município. Em resposta, os boletins de ocorrência foram censurados pela delegacia. O repórter só teria acesso aos documentos de casos mais "leves".

É um absurdo, mas é mais comum do que parece.

Direito
A primeira coisa que precisamos saber é que o conhecido B.O. é documento público, cujo acesso é garantido pela Constituição Federal (art. 5º e art. 37).

Boletim de ocorrência é um relato de crime que irá compor uma das peças do inquérito policial, que por sua vez, após a conclusão, é encaminhado ao Ministério Público para abertura de processo. Uma vez distribuído, aí sim, o juiz pode pedir sigilo judicial, dependendo do caso.

Mas as coisas não são tão simples assim. Como no Brasil ainda não temos uma lei específica que garanta o acesso a informações públicas, o que ocorre é que as autoridades alegam sigilo de investigação ou segurança de vítimas e testemunhas (conforme argumentos do Projeto de Lei 43/2009, que tramita na Assembleia Legislativa) para impedir o acesso ao repórter.

Hierarquia
Em último caso, podemos adotar medidas judiciais, como pedir mandado de segurança, para obter esses documentos, mas isso é raríssimo ocorrer. O melhor é tentar solucionar o problema na conversa.

Antes de mais nada, informar os superiores do jornal sobre o que está acontecendo. Em seguida, descobrir se a proibição partiu do delegado titular e falar com ele. Se não resolver, ir subindo na hierarquia, que vai do Seccional ao diretor do Deinter até a Secretaria de Segurança Pública e o governo do Estado.

O que não podemos é ficar calados.

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Foto: Flickr.



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