Comunicação
REDES AUTÔNOMAS DE COMUNICAÇÃO
Ainda que com certo atraso, deixo registrado aqui um interessante trecho da entrevista que Manuel Castells cedeu à revista IstoÉ. (Dica de Sérgio Corrêa Vaz via Intermezzo-lista). Segue abaixo:
ISTOÉ – O sr. tem falado do papel cada vez mais fundamental das chamadas “comunidades de informação” nas sociedades modernas. O exemplo mais recente dessa influência foi a virada nas eleições da Espanha – a inesperada vitória dos socialistas sobre os conservadores – em que o papel desses grupos foi fundamental. Como isso ocorreu?
Manuel Castells – Este é um novo e importante fenômeno. As sociedades em geral desconfiam cada vez mais da política formal e dos políticos. Em todo o mundo, há uma forte crise de legitimidade da política. De vez em quando, existem explosões de entusiasmo, como aconteceu aqui no Brasil com o Lula ou na Argentina com o Kirchner. Mas geralmente, depois de alguns meses de governo, volta o descrédito. Junta-se isso ao fato de que hoje a política está no espaço da comunicação, surgem outras formas de desenvolver redes autônomas de comunicação, como a internet e também os sistemas de mensagens, com os messengers (mensagens instantâneas) e as mensagens dos celulares. Quando as pessoas não encontram a informação buscada, ou a recusam, saem à procura de novas informações entre as próprias comunidades. Em certos momentos, se mobilizam autonomamente utilizando esses canais. Isso pôde ser visto recentemente na Espanha, em dois momentos: entre o atentado de Madri, no dia 11 de março, e as eleições três dias depois, no 14 de março. Muito sinteticamente, foi o seguinte: no dia 11, ocorreu o bárbaro atentado da al-Qaeda. Desde os primeiros momentos, a polícia indicou que o crime fora obra de um grupo terrorista islâmico. Mas o governo de José María Aznar, aliado íntimo de George W. Bush, estava às vésperas das eleições gerais. Aznar decidiu, então, que essa revelação seria muito prejudicial a ele, pelo fato de ter entrado na guerra sem o apoio da população. Então, resolveu ocultar a verdade, mentir. E a mentira veio diretamente de Aznar, que ligou para os diretores dos principais meios de comunicação da Espanha e lhes deu sua palavra que ele teria provas de que o grupo terrorista basco ETA era o autor do atentado. O jornal El País chegou a mudar sua manchete. Como a mídia iria desconfiar que o chefe do governo espanhol estava mentindo? Aznar havia calculado que, depois dos atentados, haveria apenas um dia, a sexta-feira, para circular informações, uma vez que no sábado a propaganda eleitoral estava proibida e domingo já era a votação. Mas, já na manhã de sábado, grupos de jovens, espontaneamente, se conectaram pela internet e começaram a difundir mensagens eletrônicas por seus celulares sobre o atentado. Esse tráfego na internet e nas mensagens de celulares de jovens com menos de 30 anos aumentou em 30% no sábado e em 40% no domingo. E, com essa rede, começou ser criada uma consciência pública, que dava novas informações, rechaçava a versão governamental e ainda convocava manifestações. Havia nessas eleições dois milhões de novos eleitores. Portanto, jovens que geralmente votam em partidos alternativos. Mas, dessa vez, foram eles que disseram ao governo: “mentirosos, mentirosos! Nós o tiraremos.” O principal foi a negação à mentira e à manipulação dos meios de comunicação. Esse movimento permitiu que uma eleição que estava empatada virasse totalmente para uma vitória inesperada dos socialistas."
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Em tempo: somente hoje, domingo, estou conseguindo dar um pouco de atenção ao blog. Estive fora da capital paulista nestes últimos dias para dar conta de percalços da vida. Daí a minha permanência offline. Aproveito para agradecer publicamente a todos os colegas que enviaram mensagens de apoio via telefone, email e messenger. Obrigada, de coração. Está tudo bem agora. Bola pra frente. :)
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