Meu destino é ser revista (2)
Comunicação

Meu destino é ser revista (2)


Quero retomar alguns pontos expostos por aqui, tentar fazer uma costura mais fina para ficar bem nesta humilde alfaiataria. Começo pelas capas das revistas desta semana, que devem ter gritado o famoso "Parem as máquinas!", na quinta, para mudar toda vitrine.

A solução metonímica da Veja não lembra outra vista por aqui? Pois é. Deu no Extra, do Rio. O caso é que, do mesmo modo como ocorreu na tragédia do voo da Air France, com a capa do Diário de S. Paulo, coube aos populares fugir do óbvio, da manchete com data de validade vencida (chamem o Procon!). Coincidência?

Já virou clichê dizer que os impressos precisam investir em contexto, interpretação, investigação, bla-bla-bla... right? O que suponho, além disso, e tomando como exemplo os populares, é um corte mais ousado no terno. Sem perder o vínculo com o fato, explorar recursos estilísticos e estéticos próprios do campo da arte.

A publicidade faz isso, só que anula o efeito de "estranhamento" do discurso estético numa retórica emocional, enquanto o jornalismo promove justamente o contrário -- busca um consenso racional, mas bem poderia servir-se de um manequim mais despudorado.

Provavelmente a maior notícia do ano até agora, a morte repentina de MJ, noticiada por um site de fofocas e repercutido via redes sociais, é sinal de que o hardnews pode não ser mais o core business -- pelo menos não do modo como vem sendo trabalhado-- dos jornais. Precisamos, claro, ir com calma para avaliar isso.

Linha na agulha
Tenho outro botão mal pregado nas peças anteriores. MJ era um poema concreto, traduzindo no corpo (forma) o ritmo da blackmusic. Cool até dizer chega! Por isso era um artista para ser visto e, nos anos 80, ser visto era ser visto na TV. Em sua morte, ele ao mesmo tempo em que prenuncia o fim do reinado da TV como espaço privilegiado de notícias e debates, já quase esgana no parto a internet!

Porém, reconheço que a TV ainda reina nos lares brasileiros e assim será por muito tempo. Não obstante, o que chamam de TV Digital -- que pouco tem a ver com a prima distante que funcionava a base de um tubo de raios catódicos e que emitia imagens "mosaicadas" que lhe davam uma característica "fria", segundo titio McLuhan--, prenuncia uma futura convergência. Solve et coagula.

Desfile
Do Oriente, nos chega outra fina especiaria. A "revolução verde" do Irã é sequência da vitória de Obama nas urnas e talvez um prognóstico de 2010 no Brasil. Estamos falando, claro, de comunicação e política.

Li hoje no Estadão sobre a resolução do governo do Estado para liberar o acesso de redes sociais nas repartições públicas. Em tese, a atitude abre as portas para a democracia na internet e a transparência. Mas também para fazer campanha no ciberespaço.

É bom não esquecer a política canhestra que coloca num mesmo palanque Sarney e Lula discursando contra a imprensa. Garantir a transparência e fiscalizar os poderes é o core business da alfaiataria. Ninguém faz um terno tão bem cortado.

***
Nota bibliográfica: interessante comparar O Príncipe Eletrônico, em que o prof. Ianni analisa a política em função dos meios de comunicação de massa, com A Era da Intercomunicação, de Manuel Castells, que vaticina o que acontece hoje.



loading...

- A Mídia Em Busca Do Renascimento
Artigo de Paulo Nassar - na Revista Terra Magazine. A revista Economist, em recente edição, sentenciou a morte dos jornais impressos. Na realidade, os jornais impressos pagos, a exemplo do New York Times, nos EUA, ou a Folha de São Paulo e o Estadão,...

- Status Quo
Conceitos são como fôrmas. Não adianta querer enfiar uma peça quadrada num buraco redondo. O projeto de reforma do Estadão é um exemplo de como um bom conceito funciona. No começo dos anos 1990, Pierre Lévy foi feliz em falar de inteligência...

- Who Let The Dogs Out?
A Veja desta semana traz uma matéria sobre a crise dos jornais nos Estados Unidos, com destaque para aquele que talvez seja o maior símbolo da indústria do jornal impresso no mundo: o NYT (leia Inferno na torre do Times). Já disse outras vezes, aqui...

- OpiniÃo Baixo Clero - PolÍtica & PolÍticos
O tom de desabafo nos discursos dos vereadores nesta tarde fora do normal, em que os discursos feitos na Câmara ganharam uma tonalidade política – cena rara por aqui -, se justifica em parte. Perto de outros Legislativos que existem pelo país afora,...

- O Caso Nokia: Conquista Civil Ou Retrocesso Da Comunicação?
Estamos vivendo neste século o dilema dos limites e da dicotomia entre o bom senso e o exagero. Acreditamos que conquistamos, ainda no século passado o "mundo" e com ele quiçá avanços nas leis de proteção da sociedade, sobretudo a de consumo....



Comunicação








.