Comunicação
Livro e pós-livro

Fiquei animado com o lançamento do Amazon Kindle mais do que com outras versões digitais do livro e leitores de
e-books apresentadas anteriormente. Não tanto pelo que oferece, mas pelas possibilidades.
Basicamente, trata-se de um
e-reader com tela de alta resolução, conexão sem fio, oferta de download de até 90 mil livros da loja on-line, acesso a 250 blogs, jornais, revistas e Wikipédia. U$S 399.
Porém, o mais interessante são as experiências de pós-livro abertas pelo produto.
Penso mídias de forma pragmática. Os efeitos são hábitos de conduta. O resto é bobagem. Exemplo: a TV pariu o espécime antropológico "hommer simpson", que as TVs digitais, webTVs, YouTube, etc, se encarregam de empalhar. Lenta agonia.
Outro exemplo. Balzaquianos, passamos a adolescência mudando lado de discos (lado A/lado B), trocando agulhas de vitrolas e pirateando "bolachas" em (arghhhhh!!!!!) fitas cassetes. Em poucos anos, o disco foi substituído pelo CD e o CD, por MP3, downloads e redes P2P. Cadê a loja de discos que estava aqui?
O livro, no entanto, conserva ainda sua "aura", sua sacralidade. Mais do que isso, sua praticidade. Nenhuma plataforma de escrita foi tão bem sucedida.
Comecemos pela profanação.
Livros são ferramentas. Servem para ler, reler, escrever nas margens, grifar palavras, desenhar em suas bordas, deixar recados infames e safados, fotos, pentelhos e tickets de ônibus. Objetos de uso. Marx "mastigava" os seus, que mais pareciam amontoados de papés velhos. E, confesso, tenho alguns que estão quase imprestáveis, depois de sucessivas leituras.
Alguns livros são tão bons que mesmo um imbecil deveriam comprá-los, na esperança que seu gene não vingue em filhos e netos.
Alguns livros são tão ruins que devem ser atirados à fogueira, sem dó.
Tenho uma relação relação estranha com os livros. Foram terapia e se tornaram ganha-pão. Cheguei a trampar em sebos. Juntei um punhado de livros em prateleiras. Encontrei um Finnegans Wake no lixo. Guardo essa merda até hoje.
O que me incomoda nesses objetos são colônias de ácaros e peso. Ufa, o peso... vamos falar da praticidade.
Com
e-readers como o Kindle, poderíamos transportar bibliotecas inteiras em um palm. Fazer download de obras de domínio público e de livre acesso, consultar o dicionário ali mesmo, ir na Wikipedia e ler a biografia do autor, copiar/colar, editar, anotar em suas margens, ler resenhas em jornais, recolher citações, e por aí vai.
A leitura deixaria de ser aquela atividade solitária, passiva (com ressalvas!) e isolada. É deste tipo de experiência que falo. O resto é propaganda.
O preço a pagar são prazeres mesquinhos: manipular as páginas, percorrer corredores de bibliotecas, apreciar cores e formas. Corremos o risco de tornar tudo homogêneo, impessoal, frio. É por isso que ainda ouço rock e jazz em vinil.
O sucesso do livro é a mobilidade. O futuro da internet é a mobilidade. Daí, o pós-livro.
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