Comunicação
Jornais: existe vida após a morte

Apesar das previsões funestas a respeito do futuro do jornal impresso, a julgar pelos dados divulgados pelo 61º Congresso Mundial de Jornais, realizado na semana passada - 1 a 4 de junho - na Suécia, pela Associação Mundial de Jornais (WAN, em inglês), os negócios vão bem, obrigado. No entanto, a sobrevivência dos jornais depende cada vez mais, segundo os participantes, da sua hibridização com a web.
Segundo as estatísticas apresentadas, a circulação dos jornais pagos no mundo aumentou em 2,57% em 2007 (9,39% nos últimos
5 anos e 3,65%
contando com
gratuitos), com mais de 535 milhões de jornais vendidos diariamente. Em 80% dos países analisados, foi registrado aumento ou estabilização das vendas no ano passado. Os maiores mercados são China, Índia, Japão, EUA e Alemanha.
A circulação cresceu 6,73% na América do Sul e 4,7% na Ásia, com quedas de -4,28% na Austrália e Oceania,
-2,14% na América do Norte, -1,87% na Europa e - 0,49% na África.
O Brasil teve 11,80% de aumento, o maior índice na América do Sul. E, segundo estimativas da ANJ (Associação Nacional de Jornais), o maior faturamento desde 1990 na indústria e com índices crescentes nos últimos quatro anos.
Nos EUA, cujo setor representa o maior referencial para o jornalismo brasileiro, a queda foi de -3,03% (8,05% nos últimos 5 anos).
Os números deverão ser levados em consideração em análises futuras de midiólogos de toda estirpe, mas favorecem o parecer dos "integrados", em detrimento dos "apocalípticos".
Cruzando os dados da WAN com o relatório sobre economias em redes do World Economic Forum - o The Global Information Technology Report 2007-2008 -, em que o Brasil aparece em 59º lugar no ranking com 127 países, pode-se, a primeira vista, confirmar o lugar-comum de que a Internet é a maior responsável pelo homicídio culposo dos jornais.
Em uma lista de 10 países que mais investem em tecnologias de comunicação (a avaliação inclui não somente acesso à Internet, mas inovação, educação e legislação específica, entre outros itens), segundo o relatório, em nove deles (dados da WAN) houve queda de circulação de jornais impressos. Confira:
1º) Dinamarca (-10, 14%)2º) Suécia (-6,4%)3º) Suiça (-2,94%)4º) Estados Unidos (-3,03%)5º) Cingapura (+ 16%)6º) Finlândia (-1,83%)7º) Holanda (-11,54%)8º) Islândia (-4,76%)9º) Coréia do Sul (-1,03%)10º) Noruega (-12,11%)No entanto, a conclusão seria muito estreita, reducionista, pois deve-se levar em conta outros fatores, como aspectos culturais de cada país e hábitos de consumo (aliás, um estudo com 3.500 jovens norte-americanos e europeus com idades entre 15 e 19 anos mostrou que a a TV ainda é o meio preferido deles se informarem).
Resta às empresas testar fórmulas que se ajustem a realidades locais. Dois princípios, porém, prevalecem: conteúdo jornalístico de qualidade e produção e distribuição em novos formatos. Neste sentido, o congresso forneceu bons debates sobre jornalismo cidadão, notícias hiperlocais, jornalismo móvel (interessante outra pesquisa que aponta que apenas 6% dos suecos usam celulares com acesso à rede para lerem notícias - 13% entre japoneses), redações integradas, integração impresso-web e etc.
(Confira aqui lista de participantes brasileiros no congresso da WAN).
***
Como "suicidar" seu jornalO bom humor deu o tom das discussões do 15º Fórum Mundial de Editores, realizado concomitante ao congresso. Juan Antonio Giner, diretor do Innovation International Media, fez duas listas interessantes:
1) Como matar um jornal- Imprima mal.
- Não interaja com o público.
- Imprima em cores pobres.
- Escreva longas matérias.
- Não se importe com o design.
- Pague salários baixos.
- Não inove.
- Espere por milagres.
2) Como reinventar um jornal- Seja diferente.
- Agite um pouco as coisas.
- Faça o inferno e venda jornais.
- Faça os leitores sorrirem, não ficarem deprimidos.
- Publique boas histórias.
- Seja hiperlocal.
- Integre (redações) ou morra.
- Gráficos, gráficos, gráficos.
- Teste idéias radicais.
Idéias para praticar o hiperlocalismoReetta Meriläinen, editora-chefe de um jornal finlandês, sugeriu algumas estratégias para se fazer jornalismo hiperlocal. O que considero mais interessante é a idéia de que hiperlocal não é apenas uma questão geográfica, mas comunitária: não basta mostrar problemas e fatos pontualmente, é preciso interagir criticamente com os leitores.
Não é suficiente (como vem sendo feito do Brasil) trabalhar o bairrismo, mas levantar problemas e propor soluções; fazer da experiência virtual um fator de enriquecimento da experiência "real". A proposta é fazer do hiperlocalismo um jornalismo público, ativo e prestador de serviços, valorizando o principal motivo pelo qual nos comunicamos: criar e fortalecer relações sociais.
Jornalismo cidadão: prós e contrasWerner Eggert, editor de um jornal alemão, defendeu cursos para aprimorar a qualidade produzida pelos repórteres cidadãos e apresentou duas listas com vantagens e desvantagens do chamado jornalismo cidadão:
Vantagens- É muito mais livre
- Repórteres cidadãos vêem oportunidades que o repórter profissional não vê.
- São amadores e amam seu assunto.
- É um modo de atingir uma nova audiência.
Desvantagens- Não são profissionais e não são treinados.
- Saem de férias e não dizem quando e nem se voltam, o que torna difícil planejar a edição.
- São obcecados com sua área de interesse e têm problemas em produzir histórias equilibradas.
- Superestimam sua capacidade.
- Não é jornalismo de verdade.
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Depois deste loooongo post, vou dormir porque daqui algumas horas cumprirei minha sina dominical de ler prazeirosamente uma modesta pilha de jornais. Sempre que fazer o mesmo, caro leitor, realize antes o seguinte exercício mental: "o conteúdo deste jornal vale o preço que paguei, uma vez que posso conseguir as mesmas informações de graça na web?"
E bom velório para os mais pessimistas.
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