As verdades eternas do vulgo, na era da política de massas, é que me assustam e atentam contra as minhas noções de individualidade. O discurso da igualdade costuma trazer consigo o horror, a violência e o fim da hierarquia do mérito. Logo alguém dirá que isso que escrevo se opõe ao progresso social. Errado. Progride-se respeitando-se leis democraticamente instituídas e preservando-se a democracia do assalto de lobbies, sejam eles “progressistas” ou “reacionários”.
O caso dos ditos sem-terra ilustra bem a questão. A forma da modernização brasileira gerou, no fim dos anos 1970 e no início dos 1980, uma leva de pequenos agricultores que perderam as suas terras. O movimento foi adotado pela Igreja Católica marxista (santo Deus!) e, de causa particularista, que merecia, sim, a atenção das autoridades, transformou-se numa causa supostamente coletiva.
Os ditos sem-terra hoje querem interferir na reforma agrária, na agroindústria, no Orçamento Geral da União, no manejo das florestas, na pesquisa de produtos geneticamente modificados etc. Deixaram de ser um grupo organizado com uma pauta e se comportam à moda dos integristas islâmicos: toda a estrutura de poder do país e a organização da sociedade devem levar em conta a sua pauta. Em suma: querem extinguir a República e o Estado leigo. João Pedro Stedile disputa com Bruno Maranhão o privilégio de ser o aiatolá-chefe do xiismo à brasileira.
E assim é com todos os movimentos ditos de “minorias organizadas” — que logo abandonam isso que é uma linguagem sociológica para se imaginar, de fato, uma maioria numérica. Como escolhem o caminho da violência para se impor e desafiam um Estado que considera que a imposição da lei e da ordem democráticas é uma violência, acabam, na prática, assaltando o Estado de Direito. Sob o olhar silencioso e até cúmplice de quem discorda de seus métodos.
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