Post scriptum para Mailer
Comunicação

Post scriptum para Mailer



Norman Mailer morreu. Saiu em todos os jornais. Na manhã de ontem, aos 84 anos, em Nova York.

Confesso minha ignorância em Mailer. Foi um daqueles escritores "obrigatórios" que não li na faculdade. Se era um escritor excepcional ou mediano, não sei dizer. Era, posso dizer com certo grau de sobriedade que ainda me resta nesta madrugada de domingo, um fanfarrão.

Adorava aparecer. Não demonstrava um pingo de modéstia ou comiseração pelos críticos e desafetos. Irônico e debochado, foi candidato a prefeito de Nova York. Rebelde, foi preso por protestos contra a Guerra do Vietnã. Entre uma polêmica e outra, escrevia desesperadamente, copiosamente, sobre os EUA.

Não li Mailer. Em compensação, li Gay Talese, Tom Wolfe e Truman Capote. Esses caras atearam fogo no rastro de gasolina deixado por Mailer e outros escritores, para conspirar o que ficou conhecido como new journalism.

Nos anos 60, diziam, o jornalismo estava chato pra cacete. Matérias burocráticas, monótonas, que provocavam , quando muito, um bocejo medonho no leitor (e, hoje, caso vingue a homicídio premeditado do jornal impresso, não culpem a internet, mas a pura chatice do material impresso).

Neste clima enfadonho, escritores que labutavam em redações de jornais e revistas norte-americanas começaram a usar, com certo método, técnicas literárias para escrever romances de não-ficção.

No Brasil, a extinta revista Realidade, a melhor publicação do gênero já existente, abusou dessa técnica. A atual Caros Amigos também transa essa parada. Não fosse seu discurso esquerdista datado, levaria ao orgasmo.

Ao empregar artifícios da literatura - como explorar o cenário, trabalhar diferentes pontos de vista e diálogos, atentar para idiossincrasias dos personagens, etc -, esses autores pretendiam ganhar o leitor pelo bom gosto, pelo prazer estético da leitura. E assim, dar algo mais da realidade do que caberia em um lide.

Um bom exemplo do que estou dizendo, e uma boa introdução ao gênero, é A Sangue Frio, de Truman Capote (aliás, o filme é simplesmente imperdível!). Você lê a história e pensa: "mas não é possível! Ele inventou isso! Como ele poderia saber o que o personagem estava SENTINDO???".

A grande sacada era a observação, os detalhes, as minúcias. Tudo isso combinado com o talento, que é coisa que não se aprende, se desenvolve. Jornalismo literário ou new journalism é reportagem bem escrita e muito bem apurada. Ponto final.

Existe lugar hoje para o jornalismo literário? Seria o lugar de honra das reportagens especiais em revistas e jornais, mas é praticado em livros, como os de Caco Barcellos, Fernando Morais, Ruy Castro, entre outros.

Chega. Vou tomar mais uma Bohemia em homenagem a Mailer.

Saravá, meu velho!



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