Nove horas e trinta e sete minutos da manhã de domingo. Zé Brazuca desperta. Dia de descanso. Ufa! Trabalhar de segunda a sábado num é mole não. Lavou o rosto e foi à padaria comprar pães e leite pro café da manhã. Apanhou também algumas cervejas pra assistir ao jogo do Brasileirão à tarde.
-Por que não?
- Hoje é dia de votação, não podemos vender bebida alcoólica até as 17 horas.
-Droga!
Chegou em casa puto. Era dia 23 de outubro, dia de votar no tal "referendo do desarmamento". Estragaram seu domingo. Além de não ter cerveja à venda não tinha jogo de futebol, pois a rodada foi toda antecipada para sábado.
Foi logo se livrar do encargo do voto. Ia votar no sim. Afinal, "armas matam, quanto menas armas, menas mortes".
Perguntou pra esposa qual era o número do sim . Era o dois. Aproveitou que não tinha fila. Entrou na seção cabisbaixo e respondeu o bom dia da mesária apenas por educação. Digitou as teclas com a mesma (falta de) emoção com que apertava os parafusos na fábrica.
No caminho de volta, a dúvida: "votar é um direito ou um dever?"
Parou na banca e comprou um jornal popular. Leu a parte de fofocas e a editoria de polícia. Almoçou, tirou uma soneca e depois assistiu ao programa do Gugu.
Mais à noite anunciaram na TV que o não venceu. Mais uma dúvida! Gastaram dinheiro, retardaram o início da novela durante algumas semanas por causa da propaganda, encheram o saco nos jornais todos os dias e estragaram seu domingo pra deixar tudo do mesmo jeito que estava antes?
-Eu hein? Político é tudo doido. Num faz nada direito.
Chamou o vizinho e foi pro bar tomar uma gelada.
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