Passepartout
Comunicação

Passepartout


Infiel – A História da Mulher que Desafiou o Islã
de Ayaan Hirsi Ali

Por Ana Camila

_Dentro da programação do Fronteiras do Pensamento, série de conferências com intelectuais de todo o mundo que acontece simultaneamente em Porto Alegre e Salvador, está prevista uma conferência com Ayaan Hirsi Ali para o próximo dia 1º de julho (ainda não confirmada). Ayaan é uma somali que, após viver em uma série de países africanos e islâmicos, resolveu que não pertencia àquela cultura e se mudou para a Holanda, onde se tornou deputada, sempre lutando a favor dos direitos da mulher muçulmana.

_Ayaan, como se pode perceber, é polêmica. E em sua auto-biografia, Infiel, lançada em 2007, ela conta toda a história de sua vida, desde os cinco anos de idade até depois de ter praticamente sido obrigada a deixar a Holanda e se mudar pros Estados Unidos. A história de Ayaan é precisamente a história do que os ocidentais imaginam que seja a vida de toda e qualquer mulher da religião muçulmana – e Ayaan trabalha em cima disso. Sua trajetória não foi nada feliz, tampouco agradável, e ela nos conta isso com todos os detalhes, os detalhes que “todos querem ignorar”, como coloca a própria em determinado momento do seu relato.

_Em 500 páginas, o que se observa de Infiel é mais uma tentativa violenta de afronta à religião muçulmana que um relato honesto e ponderado. Para Ayaan, o islamismo é o mal de toda a humanidade, nenhuma mulher é feliz nem de longe e os homens são todos uns brutos e exploradores das mulheres (nos mais diversos sentidos). Com base nas suas experiências pessoais e na sua tentativa de resistir a um meio no qual nunca se sentiu em casa, Ayaan se dedica a demonizar a religião islâmica, e o faz com competência.

_Mas é difícil não observar o, muitas vezes, ingênuo posicionamento de Ayaan, principalmente considerando o seu óbvio deslumbramento ao chegar à Holanda, o “mundo ocidental e civilizado, onde as pessoas te respeitam pelo que você é”, como afirma a autora. O conflito “oriente x ocidente” a partir de Ayaan toma uma forma bastante infantil e maniqueísta, e em um dado momento fica complicado tomar partido de Ayaan, principalmente no capítulo em que ela relata como é maravilhoso viver num país ocidental, como tudo é lindo, como as pessoas são gentis, e até mesmo como o Deus deles é melhor!

_O problema de Infiel não é a sua tentativa de denunciar um fato que não precisa de denúncia no ocidente (público para o qual o livro está destinado), é a circunstância na qual a autora se encontra – livre das amarras religiosas, ela se sente livre como um pássaro, e apesar de clamar para si um senso crítico em relação à cultura muçulmana, não parece ter nenhum no que diz respeito à cultura ocidental (e não necessariamente cristã). Apesar de comovente, há uma grande dificuldade em comprar o relato de Ayaan como realidade, mas apenas como uma versão dela – e uma versão por demais temperada. Infiel é como aqueles filmes de terror que não somente insinuam a violência, mas a mostram em close-up. Porque, claro, você tem que se sentir mal.

_Ayaan Hirsi Ali hoje vive sendo ameaçada de morte por “fanáticos religiosos”, que não aceitam o seu posicionamento crítico e por vezes ofensivo em relação à religião islâmica. A autora se dedica a dar entrevistas e conferências pelo mundo, para alertá-lo sobre a vida à qual as mulheres muçulmanas são sujeitadas em seus países de origem. Segundo Ayaan, o ocidente tem que interferir nos países muçulmanos, impedir que as mulheres sejam tratadas como animais. Países como a Holanda têm que acabar com essa história de abrir colégios muçulmanos para os filhos das mulheres refugiadas, porque há de haver essa mescla, esse intercâmbio cultural entre crianças cristãs e muçulmanas. Para Ayaan, que hoje em dia se proclama atéia, a única razão de assumir essa vida agora arriscada é alertar o mundo da situação da mulher muçulmana.

_Principalmente após a morte do cineasta Theo Van Gogh, assassinado por homens muçulmanos em razão do filme “Submission”, dirigido por Theo e roteirizado por Ayaan, a autora tem ido a todas as redes de televisão de diversos países, pegar o gancho da tragédia para falar sobre a questão da mulher. “Submission” é uma provocação de Ayaan, um curta de dez minutos no qual se vê uma mulher muçulmana falando de sua vida, como é tratada por seu pai e outros membros da família, mas em um texto irônico e imagens sensuais do corpo dessa mulher. O vídeo seria o primeiro de três, mas com o assassinato de Theo o projeto teve fim.

Assista ao vídeo “Submission”:

_Vivendo cheia de guarda-costas por onde quer que vá, Ayaan continua sua luta em favor dos direitos das mulheres da sua ex-religião. Onde quer que vá recebe aplausos (dos ocidentais, claro), mas, em meio a tanta polêmica em suas declarações, vez ou outra alguém decide colocá-la contra a parede e contestar suas afirmações acerca da situação da mulher islâmica, dos países muçulmanos e do seu lugar de fala, sendo uma “ex-muçulmana” e atéia. Como no vídeo que segue abaixo:

http://youtube.com/watch?v=vg8AYs56RAY

_O próximo livro de Ayaan Hirsi Ali já se encontra em pré-venda nas principais livrarias do país. Trata-se de A Virgem na Jaula, uma coletânea de textos escritos pela autora que abordam a sua indignação com o modo como o ocidente trata o oriente. Ayaan acha que os países ocidentais têm de ser mais duros com os orientais. Será?



_A participação de Ayaan Hirsi Ali no Fronteiras do Pensamento em Salvador está prevista para o dia 1º de julho, às 20h no Teatro Castro Alves. A produção do evento ainda aguarda confirmação e maiores informações podem ser obtidas no site do Fronteiras.



loading...

- ComissÃo Das Mulheres
A Câmara vota daqui a pouco um projeto de resolução proposto pela vereadora Lenir de Assis (PT). Ela quer criar uma Comissão Permanente de Defesa dos Direitos da Mulher no Legislativo. Segundo ela, essa comissão teria como papel “discutir a garantia...

- Charges Com O Profeta MaomÉ: Irresponsabilidade Da Imprensa
O Ponto de Análises abomina com veemência a publicação, par parte dos jornais do ocidente, de charges ironizando o profeta Maomé. Os motivos do posicionamento do blog são os seguintes: -Não se deve confundir liberdade de imprensa com irresponsabilidade...

- Revista Traz Relatos De Mulheres Que Sofrem Violência Doméstica
Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, será lançada amanhã (09), a Revista Intransitabilidade - "Mulheres que Escrevem". A publicação é da “Casa da Mulher” e da FAPES - Fundação de Apoio à Pesquisa e em seu primeiro número trata da violência...

-
A IMPRENSA DE CALÇAS Tive a oportunidade de debater o tema abaixo diretamente com o ombudsman da FSP, Marcelo Beraba, e agora reitero aqui: a reflexão sobre se a imprensa tem uma feição mais masculinizada do que afeminada -- de acordo com a rara...

- Passepartout
"Na Natureza Selvagem", de Jon Kracauer por Ana Camila _O que leva um garoto de 23 anos a largar uma vida confortável e ir viver no meio da natureza, em terras inabitadas e selvagens? E que fascínio é esse que o mesmo garoto causa em cada um que...



Comunicação








.