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No samba da minha terra todo mundo bole...
por Rebeca Caldas


Baiana que entra no samba
Só fica parada
Não canta, não samba, não bole nem nada
Não sabe deixar
A mocidade louca

Baiana é aquela
Que entra no samba de qualquer maneira
Que mexe, remexe,
Dá nó nas cadeiras
E deixa a moçada com água na boca




A primeira semana de dezembro (01 a 04/12) foi dedicada à celebração do Samba em Salvador, que uniu as festividades do Dia do Samba (02/12) às celebrações do Dia de Santa Bárbara (04/12), no Pelourinho.

Segundo informações do Jornal A Tarde (publicação do dia 02/12), há uma tradição desde 1972, em que vários músicos se reúnem para celebrar o Dia do Samba. Nesse ano, a homenagem foi ao sambista Paulinho da Viola, com apresentação de mais de 30 músicos numa só noite.

O baiano tem mesmo que comemorar. Afinal de contas, apesar de a popularização do samba ter acontecido no Rio de Janeiro, foram ex-escravos baianos, posteriormente trabalhadores urbanos da Cidade Maravilhosa, no período do Segundo Reinado - em meados do século XIX - que criaram essa riqueza cultural na cidade em que a Corte se alojava.

Apesar da saída da Bahia, os negros desta terra levaram consigo a cultura e os costumes que viviam por aqui. A comunidade de negros e mulatos, buscando criar uma identidade que se adequasse no novo quadro social, se agrupava em espaços próprios, resgatando seus cultos aos santos, seus ritos percussivos, suas danças ancestrais. Entre esses lugares, destaca-se o terreiro de Tia Ciata, freqüentado por músicos como Donga e Pixinguinha, citada pelo pesquisador Luiz Tatit, que destacou o sincretismo que agregava as classes sociais e as manifestações culturais do período:

Além do terreiro, a moradia dispunha de outros cômodos de fundo, nos quais se executavam os sambas de diversão talhados para os passos de dança, mas já contendo versos improvisados – espécie de versão profana dos antigos cantos repensoriais – que aos poucos iam se fixando (TATIT, 2004, p.31).

Nesse momento, as famílias tradicionais brincavam o entrudo, celebração fortemente ligada ao período abstinencial imposto durante o período da Quaresma, na qual os participantes molhavam-se e sujavam-se uns aos outros. Com o crescimento da população e a diversificação das camadas sociais, a festa tomou uma dimensão coletiva, era o carnaval.

Para se inserir na festa, a nascente classe média, sem condições de armar carros alegóricos, criaram os ranchos carnavalescos, uma adaptação dos Ranchos dos Reis Nordestinos, estilizados por baianos, moradores da Zona da Saúde. Sobre isso, José Ramos Tinhorão afirma:

Ora, nesses ranchos, onde se cantavam em marcha as quadras e as solfas mais populares entre os negros da Bahia, também se “arrojava o samba”, isto é, também se incluía um ritmo e um sapateado que nada mais eram do que uma estilização da vigorosa coreografia do batuque. (TINHORÃO, 1997, p.18).

Com a utilização dos meios de comunicação, como o rádio, e sistemas de registro e gravação de obras musicais, o samba foi logo apropriado por profissionais da classe média, sendo então hibridizado com outros estilos musicais, com o jazz e elementos de orquestras. Dessa mistura, já na década de 1930, havia diversos tipos de samba: samba de morro, samba de gafieira, samba-canção, samba-exaltação, samba-choro. Além disso, surgiu um estilo musical que daria ao Brasil grande representatividade internacional: a Bossa-Nova.

O samba faz parte do repertório de grandes cantores da música brasileira, como Dorival Caymmi, Ary Barroso, Chico Buarque de Holanda. E continua influenciando diferentes expressões musicais e assumindo várias nomenclaturas e características, de acordo com o lugar e o grupo que se apropria. No carnaval do Rio de Janeiro e São Paulo, as escolas de samba são as responsáveis pela festa. Os tradicionais Paulinho da Viola e Benito de Paula ainda inspiram muitos sambistas por aí.


No resto do ano, tem samba para tudo quanto é gosto: samba de quintal, com representantes como Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Jorge Aragão. O samba partido alto revelou as bandas Revelação, ExaltaSamba, Raça Negra. Jorge Benjor e Seu Jorge defendem o samba-rock O pagode, também vertente do samba, está em alta. Pelo Sudeste, o pagode romântico faz sucesso com Alexandre Pires, Belo, Sorriso Maroto. E ainda tem um pessoal que está começando a aparecer na MPB, como Tereza Cristina e Grupo Semente e Mart’nália.

Mas a gente gosta
Quando uma baiana
Requebra direitinho
De cima em baixo
Revira os olhinhos
E diz:
"Eu sou filha de São Salvador"

Mas o samba não foi esquecido por aqui. Pelo contrário, em Salvador, nas esquinas do Pelourinho, no Garcia, na Piedade, Mercado Modelo, Dique do Tororó, é possível ouvir o som dos pandeiros a embalar a cidade. Infelizmente, não conheço todos os lugares, mas tenho certeza que os moradores da Liberdade; Itapuã; Nordeste de Amaralina, com seus sambas juninos; os que vivem na Cidade Baixa e nos bairros do Subúrbio também sabem cantar e tocar essa música que contagia os quatro cantos da cidade. No interior, a rica cultura do Recôncavo nos presenteou com o samba de roda, o samba de chula, o samba corrido.

Os cantores mais tradicionais, como Riachão e Nelson Rufino ainda celebram o samba junto com a nova geração. Mariene de Castro, Jota Veloso e Sandra Simões estão conseguindo visibilidade, e cantam samba do recôncavo. Entre as bandas de partido, destacam-se Bambeia, Samba de Cozinha, Pagode em Família, entre outros. Há algumas bandas que mais estão relacionadas à classe média, como Batifun e Samba Eu, Você e Sua Mãe.

A grande indústria da música baiana também se serviu da diversidade do samba, lançando no mercado uma quantidade enorme de bandas e cantores de pagode: É o Tchan, Harmonia do Samba, Psirico, Guig Ghetto, Fantasmão. E o que dizer dos blocos afros, como o Muzenza, o Olodum, o Ilê Aiyê, a Dida? Estes são os que popularizaram o samba-reggae.

É pena que esta que escreve sabe muito pouco sobre o samba. Mas uma coisa não dá para negar. A gente tem mesmo muitos motivos para comemorar!

Quem não gosta de samba
Bom sujeito não é
É ruim da cabeça ou doente do pé
Eu nasci com o samba
Do samba me criei
E do danado do samba nunca me separei


Referências:

TATIT, Luiz. O século da canção. Ateliê Editorial. Cotia, 2004
TINHORÃO, José Ramos, 1928 – Música popular: um tema em debate / José Ramos Tinhorão; 3ª edição revista e ampliada. São Paulo: Ed.34, 1997.

http://www.gastronomias.com/cronicas/entrudo.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bloco-afro

http://www.rosanevolpatto.trd.br/sambabrasil.htm



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