O futuro do jornalismo, por Rosental Calmon Alves
Comunicação

O futuro do jornalismo, por Rosental Calmon Alves


Com o entusiasmo juvenil e uma atuação performática digna de publicação no Youtube, o professor Rosental Calmon Alves ministrou a palestra (Re)Construção do jornalismo para a Era Digital durante o 3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.

Durante uma hora e meia, o diretor Knight Center for Journalism in the Americas (Texas) tentou convencer uma platéia quase assustada que as perspetivas da mídia e do jornalismo são ao mesmo tempo dramáticas e promissoras.

Atônitos, os estudantes e profissionais não estão sozinhos: segundo Rosental, a postura é compartilhada por muitos proprietários das mídias tradicionais, que sabem que algo está acontecendo mas não sabem o que fazer daqui pra frente.

(Sintomaticamente, a palestra correu em um auditório off-line. Pensando bem, pouca diferença fez para a grande maioria - para se ter uma idéia, só meia dúzia dos presentes, incluindo o próprio palestrante, conhecia o Twitter).

Alguns pontos destacados:

- Mais do que uma revolução tecnológica, a internet traz uma ruptura histórica comparável a dois momentos: revolução do tipo móvel e Revolução Industrial.

Vivemos um intenso processo de remediação do complexo de mídias. Usando conceitos de Roger Fidler, argumenta que não estamos presenciando uma midiamorfose, que foi o processo de adaptação das mídias de massa na era industrial, mas um midiacídio, ou morte de um sistema midiático, que dá lugar a outro. Basta lembra que o Google é empresa de mídia, e cada vez mais importante.

- Ruptura do modelo emissor/receptor ainda causa pânico nas redações. Sem especificar qual, citou uma publicação onde os jornalistas estão em "estado de rebelião" porque o site agora aceita comentários dos leitores. E mais: "NYT morre de medo dos comentários".

A imprensa é apenas um dos elementos do complexo de midias cotidiano do público. Dividem espaço, entre outros, com as mídias sociais, onde os indivíduos conectados tomam o poder da midia. A "pessoa em rede", no melhor estilo "broadcast yourself", cativa e fideliza suas microaudiências. A comunicação midia-centrica torna-se "eu-centrica", com controle total sobre a produção, edição, acesso, distribuição de conteúdos.

Notícia era o fim, hoje é o começo de uma discussão em que o jornalista deve preservar a posição de editor ou mediador do debate. Neste sentido, uma investigação jornalística pode ser aberta, através da publicação de um resultado parcial sobre uma fraude, por exemplo, solicitando ao público complementos àquela informação inicial.

- Jornalismo é conservador e hierarquizado. Talvez por isso, vive um cenário mais que preocupante. Nos EUA, houve a eliminação de 3.600 vagas de jornalistas nos EUA na última década, configurando a pior crise da história da imprensa.

O modelo traçado é de desconstrução de seu modelo industrial para novas estruturas adequadas à era digital, com eixo principal na internet (Web first!).

Praticamente todas as redações dos EUA adotaram operações híbridas: digital + papel. Mais do fusão, exige-se uma alteração conceitual no modelo de operação. Como o modelo da
Gannett: redação deixa de ser newsroom e torna-se information center.

Dois exemplos:

Atlanta Journal Constitution alterou a estrutura da redação de 12 para 4 seções: noticias e informações (dia-a-dia), enterprise news (reportagens especiais), edição impressa (editores, diagramadores etc) e digital/Web.

El Tiempo (Colômbia) implementou dois departamentos: um que busca notícias e outra que as publica.

Para mais sobre o tema, vale uma leitura do artigo Jornalismo digital: Dez anos de web… e a revolução continua, publicado em 2006 na revista Comunicação e Sociedade.



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