- O advento de mecanismos de comunicação que possibilitam a interação do público, dos quais os blogues são o exemplo recente mais significativo, evidenciou um problema com o qual muitos não estão conseguindo lidar. Nenhum outro veículo publicaria o que está sendo permitido na Internet. Embora a permissividade abranja principalmente as áreas de comentários de blogues, ela não se limita a estas. Em muitos casos, os próprios responsáveis por blogues e sítios de Internet (em geral aqueles que servem a interesses específicos, usualmente partidários) permitem-se divulgar como fatos as coisas mais inacreditáveis, entregando-se livremente ao assassinato de caráter.
- As manifestações de visitantes que infestam alguns dos blogues jornalísticos com grande audiência desafiam a capacidade de descrição, percorrendo todo o espectro da escatologia. Grande parte dos intercâmbios resume-se a trocas de xingamentos, tanto entre os interlocutores quanto alvejando figuras públicas, partidos políticos, grupos inteiros de pessoas. Calúnias, difamações, imputações irresponsáveis são regra em alguns ambientes da rede.
- Como jornalistas sabem melhor do que ninguém, e como os não-jornalistas fariam bem se aprendessem, a responsabilidade pela publicação de qualquer informação é de todos aqueles que participam da cadeia. No caso de um comentário num blogue, são responsáveis no mínimo o autor do comentário, o titular do blogue e a empresa que o abriga.
- É patente, ainda, que a permissividade induziu em muitos dos indivíduos que usam tais espaços a noção de que teriam "direito" de fazê-lo. Não têm. O direito de publicar seja o que for é do responsável, não de seus visitantes. Estes podem, se quiserem, desempenhar plenamente seu direito de expressão pelo simples expediente de abrir eles próprios seus veículos – e, depois, de suportar as conseqüências da publicação daquilo que vierem a veicular.
- Ao não cercearem as manifestações irresponsáveis que são feitas em seu nome, muitos comunicadores estão disseminando a idéia de que a esfera pública é governada pelo vale-tudo, prejudicando assim a formação política do público e tornando ainda mais difícil a tarefa já infeliz de incentivar valores civilizatórios.