Jornalismo não se faz impunemente
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Jornalismo não se faz impunemente


A Folha de hoje traz um extenso editorial em defesa da criação de uma nova Lei de Imprensa, contra a idéia da simples abolição de qualquer lei que normatize o exercício da profissão, tomando partido no debate (leia cópia do editorial no Conjur).

Destaco, entre os principais pontos da argumentação do jornal, a proteção de novas práticas de jornalismo, como a cobertura "hiperlocal" em blogs:
A fiscalização de tiranetes e oligarcas em regiões menos desenvolvidas do país ficaria mais vulnerável [sem uma regulamentação]. Tampouco haveria o devido amparo legal à efervescente "imprensa cidadã", que dissemina blogs pela internet, inovações que merecem ter proteção especial da lei de imprensa quando revestirem caráter jornalístico.
Ou seja, a Lei de Imprensa, criada pela funesta ditadura militar para amordaçar o jornalista, seria recriada para garantir sua liberdade de expressão, inclusive na internet. Mas será que a rede, a blogosfera por exemplo, não possui seus próprios expedientes e mecanismos de defesa? Será que a web social precisa de protocolos de funcionamento?

Diploma
A Lei de Imprensa e a obrigatoriedade do diploma em jornalismo estão na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF). O diploma - historicamente desprezado pela mesma Folha que apóia uma Lei de Imprensa - é defendido por entidades como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que na semana passada disponibilizou no site um livro dedicado ao assunto.

Como já afirmei inúmeras vezes, concordo com o bordão "a melhor escola de jornalismo é a redação", mas, apesar da má qualidade de boa parte de cursos de Jornalismo no país, defendo não só a formação acadêmica como a formação continuada, que chamo de "jornalismo schollar".

Somam-se à função de informar a de ser "filtro" de informações e de ser "fazedor de sentido", em um universo de informação total que beira o abismo da informação zero. Mais importante que dizer algo (e a web é prolixa ao extremo) é dizer algo que faça diferença, tecendo relações e contextualizando fatos.

E para isto não basta saber responder as cinco perguntas básicas do lead. É preciso uma boa formação crítica e cultural, além de uma disposição para aprendizado full time.

Melhor não fazer?
Precisamos de uma Lei de Imprensa? Precisamos de diploma? Em entrevista ao Observatório da Imprensa na semana passada, o jornalista Renato Pompeu, encarnando o espírito de recém morto Paulo Patarra, respondeu assim à pergunta clássica "Que conselhos você daria para alguém que está começando no jornalismo?":
1) Abandonar imediatamente a profissão e escolher outra. 2) Se não for possível isso, procurar se estabelecer por conta própria na internet, com patrocínio próprio que não interfira na sua independência. 3) Se isso também não foi possível, procurar manter a dignidade profissional e preparar-se para uma vida de sacrifícios.
Por que escolhemos uma profissão em que não há mais empregos e, nos poucos cargos restantes, a competição é acirradíssima; em que há muito trabalho e riscos e pouco descanso e recompensa financeira? Faz-se por paixão, oras. Tesão, se preferirem. Faz-se, mas não impunemente. Seja em uma grande empresa de comunicação ou em um blog, nunca podemos abrir mão da responsabilidade e da intransigência.

Creio que o diploma é importante, não tenho certeza quando a uma legislação específica, mas estou convicto do que mais faz falta: pentelhos, chatos e coros desafinados.

Foto: Redação do "The Times" por Gregor Rohrig.



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