FSM: com um (forte) pé no século passado?
Comunicação

FSM: com um (forte) pé no século passado?


É um desafio (exaustivo) acompanhar a programação do V FSM. Não tanto pelo fato em si que são duas mil atividades propostas por 5.700 organizações de mais de cem países. Um número que supera com facilidade as edições dos fóruns dos anos anteriores. Em 2002, foram 745 atividades realizadas; em 2003, 1402 em 2004, 1.251. O Fórum Social Mundial está crescendo: em número de painéis, em organização interna, em repercussão na imprensa internacional e até no embate simbólico, ao menos, com os líderes de países em todo o mundo. A sombra (ou será a luz?) de Porto Alegre está cada vez mais presente em Davos. E vice-versa.

As dificuldades para bem acompanhar o fórum são de outra ordem. Um calhamaço de 300 páginas resume toda a programação. Seria simples acrescentar nesse calhamaço pouco decifrável os endereços eletrônicos dos sites dos participantes, e-mail para contato ou quem sabe (seria sugerir demais?) até um blog reunindo papers, intervenções, lista de discussão etc... Mas nada há! É fácil perder as informações relevantes ou simplesmente sequer encontrá-las. No site do Fórum não há nenhum mecanismo de busca que permita resgatar informações sobre os dois mil painéis.

A infra-estrutura geral montada para a cobertura - mesmo com todo o esforço dos organizadores - revela-se pouco funcional. São 120 computadores na sala de imprensa que não dão conta de atender os 5,6 mil jornalistas (um recorde em relação às edições anteriores). Além da conexão que cai com relativa constância.

O Cômite Organizador Brasileiro do Fórum estabeleceu quatro parcerias para a cobertura. Para matérias voltadas para a imprensa escrita, há o Ciranda. Um fórum de rádios reúne as emissoras comunitárias presentes em Porto Alegre. As produções de vídeo independentes foram reunidas em um programa chamado Panorama Fórum, disponível via satélite pra TVs comunitárias, universitárias e educativas. E também no Acampamento Internacional da Juventude. Mesmo assim, o resultado final é precário face à multiplicidade (e eventual riqueza) dos debates. Pouquíssimos eventos estão sendo gravados e terão disponível acesso em áudio. E um número menor contará com arquivos audio/vídeo.

Debates? Só presenciais!

Não há nenhuma ferramenta digital possibilitando qualquer tipo de participação online. Seja para o público que eventualmente não conseguiu se deslocar fisicamente até Porto Alegre, seja mesmo para palestrantes renomados. Fritjof Capra, autor do famoso O Tao da Física, e uma das presenças mais esperadas cancelou na última hora sua vinda ao Fórum. Teleconferência? Nem pensar. A atriz Letícia Sabatella o substituiu recitando poemas!

E se você é um dos 120 mil participantes presentes em Porto Alegre e perdeu alguma atividade, esqueça! Será quase inviável resgatá-la em algum suporte digital.

Mídia tradicional versus virtual

Uma queda de braços é constantemente anunciada e analisada no Fórum. Inúmeros painéis chamam para o debate da democratização da mídia e para "práticas contra-hegemônicas" da informação e dos softwares livres. No painel do dia 28, "Observatório da Mídia Global: dois anos depois, para onde ir" chama-se a atenção para a "crise sem precedentes" do setor, com demissões em massa e sua concentração inédita em poucas grandes empresas. Além disso, a mídia vem recebendo fortes investimentos de setores econômicos que não têm nenhum vínculo de origem com a comunicação de massa: indústria eletrônica, telefonia, construção civil, etc... Esse, por exemplo, é o quadro díficil traçado por Ignácio Ramounet, diretor do Le Monde Diplomatique e coordenador do Media Watch Global, entidade que reúne jornalistas, professores e profissionais da mídia da Europa, América do Norte e América Latina.

Já a análise dedicada ao eventual papel dos blogs enquanto um novo gênero jornalístico limita-se a caracterizá-los como muito "subjetivos", possuidores de uma linguagem própria. Passa-se ao largo o papel que vem exercendo e dando demonstrações de autonomia como na cobertura da Guerra do Iraque em 2003, nas recentes eleições norte-americanas ou no 11 de março de 2004 em Madri. Pode ser pouco, mas são ousadias como essas que vêm incomodando a grande imprensa tradicional e levando-a (ainda que parcialmente) a coberturas mais fidedignas e realistas.

Para Venício A. de Lima, jornalista, sociólogo e participante da versão brasileira do debate, mesmo com os dados apontados de que já existiriam cerca de 900 milhões de pessoas conectadas à web em todo o mundo, "a internet não é um meio de comunicação de massa". Toda sua abordagem do "novo fenômeno" é pontuada pelas expressões "cautela na análise", ou ainda "potencial" e "horizonte" para a nova mídia. São teorizações como essa (até aplaudidas!) que ajudam a entender o modo como está estruturado o Fórum Social Mundial, que ignora as possibilidades digitais de participação online e ainda fica fechado dentro de si mesmo. As cinco edições do FSM foram realizadas já no século 21. Mas as concepões com as quais estão estruturadas suas atividades e pretende-se enfrentar problemas históricos do mundo e do Brasil ainda estão fortemente marcadas por um viés do século passado.

Talvez seja um pouco difícil (tentar) mudar o século 21 com conceitos do século 20. Ou não?

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