Entre o jornalismo e a agregação de conteúdo
Comunicação

Entre o jornalismo e a agregação de conteúdo


Qual a diferença entre as práticas jornalísticas e as interfaces de agregação de conteúdo (no modelo live streaming, por exemplo)?

Até que ponto a incorporação de ferramentas como o Cover it Live (ou mesmo a transmissão experimental do Roda Viva) podem esvaziar um discurso e projetos jornalísticos marcados por escolhas editoriais e pelo trabalho criterioso de edição de um profissional (ou não!) da área?

Provocado por alguns alunos céticos ou entusiastas demais, e também após um improvisado debate após a apresentação da Gabriela Zago na ABCiber, venho pensando nesta questão há algum tempo.

Uma boa situação de análise: a intensa publicação de conteúdos por usuários comuns nos momentos mais críticos da tragédia em Sta Catarina e dos atentados terrorista em Mumbai, na India.

O Tiago Doria registrou o AllesBlau (blog com notícias de Blumenau), Mahalo (página especial sobre os ataques na India) e o liveblogging de estudantes holandeses como exemplos de hubs de informação e curadoria de conteúdo (grifos dele).

Como registrei nos comentários lá, não sou contra a iniciativa de agregação de conteúdos externos e/ou colaborativos, em sites jornalísticos inclusive, mas acho que a mediação clássica do jornalista (o que é ou não notícia para um determinado veículo, por exemplo) não pode ser abafada por fluxos contínuos de informação. Mais do que credibilidade, me refiro a escolhas que um veículo TEM que fazer, principalmente numa era de excessos informacionais como a atual.

Segundo Doria, Ariel Gajardo, um dos criadores do AllesBlau, disse que no blog “não existem amarras editoriais”. A palavra amarras nos remete a censura, ocultamento etc. Se for assim, ok.

Mas entendi a palavra como um sinônimo de filtro, isto é, o blog não teria filtros editoriais. Isso pode ser um mérito, ou uma necessidade, para um veículo surgido numa situação de exceção com a de Sta Catarina, mas é um suicídio editorial em tempos normais.

O que diferencia um veículo e cativa o público é justamente seu filtro editorial, não?

Fazem coro a esta argumentação dois textos publicados recentemente: em Jornalismo é mais do 140 caracteres, Luis Weis, ao reividindicar o papel a ser cumprido pela mídia impressa nestas situações, a contrapõe aos microblogs e ferramentas afins:
Quanto mais esse tipo de recurso se propagar, levando a patamares inimagináveis há poucos anos o fluxo e a amplitude da informação tópica, pontual – de varejo, em suma, por importante que seja para os interessados – mais a imprensa terá de oferecer o que está além do alcance dos Twitters deste mundo: a informação no atacado.
Em entrevista ao site Hipercritico.com (e linkada pelo GJOL), Rosenthal Calmon Alves disse uma frase que sintetiza esta discussão (em negrito):
yo soy muy optimista en relación a la importancia que el periodismo va a tener en el futuro, porque cuando todo el mundo habla, nadie habla. La voz del periodista profesional, al lado de la voz del periodista no profesional, va a tener una importancia central que va a iluminar el camino de la información.

Quer mais? Dê uma olhada nos comentários da instigante pergunta do blog TwiTip: Twitizen Journalism: Can Twitter Be a Real News Platform?

Meio off-topic: Registrei no Twitter, mas vale citar de novo a iniciativa do jornal Diário do Litoral que, impedido de circular por causa das enchentes, criou logo um blog e um canal no Twitter e manteve-se na ativa. E sem perder o bom humor, uma característica do Diarinho, dizem os leitores habituais. Não foi nenhuma iniciativa inédita, sabemos, mas louvável.



loading...

- Jornalistas Da Forbes Vão Ter Blogs
O novo diretor editorial da revista Forbes, Lewis D´Vorkin, anunciou que todos os seus repórteres deverão ter seu próprio blog. A iniciativa, segundo D´Vorkin, visa a integração das informações impressas e online do veículo. Para ele, os blogs...

- As Dez Boas Práticas Para Estudantes De Jornalismo Com Relação A Redes Sociais
O Mashable listou na semana passada dez boas práticas para estudantes de jornalismo com relação a redes sociais. Vale a pena dar uma olhada no post inteiro. Mas antecipo a lista (ainda que agora o diploma de jornalismo não valha mais muita coisa):...

- Correspondente No Twitter
Tem falado-se muito nas últimas semanas que o Twitter é mais do que um site de relacionamento ou um serviço de microblogging. Com base nas suas mensagens de 140 postadas pelos usuários em tempo real, uma busca no Twitter pode trazer as informações...

- A Diferença Entre "blogs" E "blogs"
Todos estamos acompanhando a retomada do tema "blog" como a bola da vez da mídia especializada (e outras nem tanto) em TI. Chego quase a pensar que, em breve, os blogs serão "o orkut da vez.....". Dois exemplos recentes: o Link do Estadão publicou...

- Sobre A Barriga Do Ireport: Quem, Afinal, Vai Fazer Jornalismo?
Desde que o Caio me mandou o link, estou aqui matutando sobre a "barriga" que o site colaborativo IReport e, por tabela, a CNN tomaram com a divulgação de um suposto infarto sofrido por Steve Jobs na última sexta. Para quem não se lembra o IReport...



Comunicação








.