Como representar "narrativamente" catástrofes como o Katrina e o Tsunami? Como "narrativizar" eventos que, ao contrário do 11 de Setembro, não apresentam culpados e motivações óbvias? São perguntas levantadas por João César de Castro Rocha, professor de Literatura da UERJ, em artigo na Folha de S. Paulo deste domingo.“(...) as catástrofes naturais apresentam um sério desafio à reflexão contemporânea, assim como à própria cobertura jornalística. Numa cultura secularizada, como "narrativizar" a erupção vulcânica que deu origem ao tsunami? Como atribuir "sentido" aos ciclones tropicais migratórios que se originam sobre os oceanos, provocando furacões? Se não cabe atribuir semelhantes desastres naturais à Providência, e, ao mesmo tempo, se não faz sentido imputá-los a agentes históricos, então, como representar "narrativamente" tais catástrofes? Contudo, numa época em que a técnica tornou-se um fetiche em si mesmo, como aceitar a incapacidade nem tanto de previsão quanto de controle dos efeitos das catástrofes? Talvez essa seja uma distinção útil para começar a refletir sobre o problema. Deveríamos evitar o termo "tragédia" ao descrever eventos como o tsunami ou o furacão Katrina -embora seja o recurso favorito da cobertura da grande imprensa que, em geral, substitui o caráter propriamente irrepresentável da explosão de uma força natural pela produção em série de uma miríade de histórias individuais de resgate, heroísmo, desespero, esperança. A dificuldade de lidar com tais catástrofes relaciona-se precisamente à resistência que oferecem à narrativa."